26 de novembro de 2009

Remorso

Às vezes, uma dor me desespera . . .
Nestas ânsias e dúvidas em que ando,
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera . . .
Ah! mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que esperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!

Olavo Bilac

16 de novembro de 2009

Eterno sonho

Quelle est done cette femme?
Je ne comprendrai pas.
Félix Arvers

Talvez alguém estes meus versos lendo
não entenda que amor neles palpita,
nem que saudade trágica, infinita
por dentro dele sempre está vivendo.
Talvez que ela não fique percebendo
a paixão que me enleva e que me agita,
como de uma alma dolorosa, aflita
que um sentimento vai desfalecendo.
E talvez que ela ao ler-me, com piedade,
diga, a sorrir, num pouco de amizade,
boa, gentil e carinhosa e franca:
- Ah! bem conheço o teu afeto triste . . .
E se em mimha alma o mesmo não existe,
é que tens essa cor e é que eu sou branca!
(Cruz e Sousa)

13 de novembro de 2009

Lamento

Os dias passam rápido demais e não importa a hora em que se levante, ainda que se pule da cama como um gato, as horas nunca são o suficiente, o sono é sempre curto e interrompido por sonhos quase reais que assustam.
Uma vida quase real.
E nesses dias tudo parece uma imensa mentira mal contada, uma piada sem graça . . .
De novo as horas não são suficientes, falta ar e falta espaço, falta tudo e tudo que há é a falta.
Sinto sua falta, não me lembro mais em que esquina te perdi, em que beco você soltou minha mão, em que quarteirão me virei e não te vi, só me lembro que um dia te procurei em toda parte e você não estava mais ali.
Sinto sua falta, sinto saudades, sinto, sinto e sinto. Sinto por tudo, sinto por nós, sinto por mim e sinto por você, vagando assustada e sozinha.
Lamento o sentir, lamento ter te abandonado para perseguir o tal do futuro, lamento, lamento e lamento.
E sinto meu lamento, meu desespero em te sentir, te ver, te tocar e tudo que vejo, tudo que sinto, tudo que toco é o vazio.