Você está vivo. Esse é o seu espetáculo. Só quem se mostra se encontra. Por mais que se perca no caminho.
7 de dezembro de 2010
Perto do Coração Selvagem
18 de novembro de 2010
12ª Festa do Livro da USP
13 de novembro de 2010
Noite de luar
10 de novembro de 2010
Festival do livro e da Literatura de São Miguel
Aurora da minha vida
17 de outubro de 2010
Como as coisas são
9 de outubro de 2010
The Veronicas
1 de outubro de 2010
Constituição, eleição e etc . . .
Depois desses 22 anos de Constituição talvez haja mais perguntas do que respostas. Discussões sobre o quanto ela influência as relações sociais e as políticas públicas, sobre o quanto a gestão pública mudou a partir de 1988 e o que esta Carta trouxe de novo em termos de direitos e cidadania ainda estão em aberto.
Há duas formas distintas de se fazer esta análise, por um lado alguns pesquisadores respeitáveis afirmam que a Constituição de 1988 atendeu a reivindicações de movimentos sociais, por outro pesquisadores igualmente respeitáveis afirmam que ela tem um alto custo, atribui muitos direitos e por isso engessa as políticas públicas.
Entretanto para de fato compreender essa discussão é necessário se debruçar sobre as instituições que formam o sistema de justiça, pois é através delas que se desenham as garantias formais de direitos. No Brasil se escolheu o presidencialismo mas o desenho de relações é parlamentarista. Dentro dos poderes Executivo e Legislativo o voto é de coalizão e vale ressaltar ainda o excesso de Medidas Provisórias. Desse modo o Judiciário acaba por ocupar o espaço da garantia dos direitos e assume a função de incluir os excluídos no exercício desses direitos.
Vale ressaltar ainda que todas as outras cortes do mundo foram concebidas para funcionar como Cortes Constitucionais dentro de um regime estável, enquanto no Brasil o que vigora é o caos institucional, o que certamente dificulta o trabalho do Supremo. Há ainda o fato de que não apenas no Supremo mas também juízes de 1º e 2º grau cometem “falhas” por decisões políticas, pois não existe juiz ou procurador neutro, quando muito estes conseguem ser imparciais.
De 1988 à 1992 a maioria dos magistrados não julgava de fato pois faltava o julgamento de mérito. Assegurar o ingresso à justiça nesse tipo de sistema é discutível pois o que se coloca em xeque é a capacidade desse Judiciário de fazer justiça de forma efetiva.
O texto da Constituição Federal resultou de lutas não lineares e nada simples e por essa razão o texto constitucional não é nem linear nem simples. Na época acreditou-se que o texto satisfazia as necessidades do país e que bastaria que as Instituições se amoldassem a ele.
Se por um lado existem as críticas insinceras que afirmam que o texto constitucional é muito extenso e ainda assim ineficaz e ineficiente, pois pretensamente nada regula ou regula mal e anda de mãos dadas com infratores, existem também as críticas sinceras que precisam ser levadas em conta, uma vez que de fato o texto constitucional foi elaborado em meio a uma grande tensão e isso se reflete em suas linhas e muito do que foi aprovado pelos constituintes não entrou na redação final da Constituição Federal. A Constituição de 1988 acabou por adotar um desenho liberal para organizar um Estado social.
Para encerrar vale destacar o fato de que a Carta Constitucional não se faz sozinha e o Estado é de obrigação de seus cidadãos. A Constituição não é mais apenas uma carta de competência, por tanto não é mero instrumento de poder. A norma não é apenas texto mas também, e talvez principalmente, contexto. O poder constitucional não se limita ao poder formal e institucionalizado, é o poder informal e difuso que opera no cotidiano que dota de vida o texto constitucional e possibilita transformações (formais ou não) do ordenamento constitucional.
Desencavei esse texto lá do início/quase meio da graduação . . . Por que? temos eleições no domingo e galera por favor pesquisem a vida pregressa de seus candidatos. Não custa nada e quase não demora em tempos de internet banda larga!
5 de setembro de 2010
VI Semana de Gestão de Políticas Públicas
30 de agosto de 2010
Puro preconceito
9 de agosto de 2010
Semana de Artes e Feira do Livro
31 de julho de 2010
O livro dos contos enfeitiçados
25 de junho de 2010
Esquadrão da Moda - De muito mau gosto
16 de junho de 2010
Autopsicografia
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
14 de junho de 2010
Bem posicional
7 de junho de 2010
O poeta fingidor
6 de junho de 2010
E o Oscar vai para . . .
5 de junho de 2010
Evento em Osasco
4 de junho de 2010
Juramento
Que não crês nas juras minhas,
Que nunca cumpridas são!
Mas se eu não te jurei nada,
Como hás de tu, estouvada,
Saber se eu as cumpro ou não?!
Tu dizes que eu sempre minto,
Que protesto o que não sinto,
Que todo poeta é vário,
Que é borboleta inscontante;
Mas agora, nesse instante,
Eu vou provar-te o contrário.
Vem cá, sentada ao meu lado
Com esse rosto adorado
Brilhante de sentimento,
Ao colo o braço cingido,
Olhar no meu embebido,
Escuta o meu juramento.
Espera: - inclina essa fronte . . .
Assim! - Pareces no monte
Alvo lírio debruçado!
- Agora, se em mim te fias,
Fica séria, não te rias,
O juramento é sagrado:
"- Eu juro sobre estas tranças,
E pelas chamas que lanças
Desses teus olhos divinos:
Eu juro, minha inocente,
Embalar-te docemente
Ao som dos mais ternos hinos!
Pelas ondas, pelas flores,
Que se estremecem de amores
Da brisa ao sopro lascivo;
Eu juro, por minha vida,
Deitar-me aos teus pés, querida,
Humilde como um cativo!
Pelos lírios, pelas rosas,
Pelas estrelas formosas,
Pelo sol que brilha agora,
-Eu juro dar-te, Maria,
Quarenta beijos por dia
e dez abraços por hora!"
O juramento está feito,
Foi dito co'a mão no peito
Apontando ao coração;
E agora - por vida minha,
Tu verás, óh moreninha,
Tu verás se o cumpro ou não! . . .
Casimiro de Abreu - Rio - 1857.
31 de maio de 2010
Blasé
Porque ser blasée não é mais privilégio do femino, agora no masculino esse seu ar blasé vai vingando.
Não se afete com que te importa e siga se enganando. Se importe com que não te afeta e vá andando.
*Porque as vezes até me dá vontade de escrever alguma coisa, principalmente quando vejo gente que escreve. Mas ainda quero um dia de trinta horas.
29 de maio de 2010
Meninos bons X meninos maus
25 de maio de 2010
Quem leu, leu. Quem não leu não lê mais :p
22 de maio de 2010
A importância de ter fé
9 de maio de 2010
Sobre aqueles que mamam
Eu o vi a quase um mês e quis postar aqui mas sempre esquecia . . .
Agora eu lembrei!
Cidinha Campos foi atriz, apresentadora, comunicadora e a primeira repórter internacional do Fantástico. Já foi deputada federal e atualmente é deputada estadual (RJ). Foi relatora da CPI da Previdência.
Curioso é que ela fez uma peça de teatro depois que foi demitida da Globo chamada "Homem não entra" em que homem não entrava mesmo e que deu muito o que falar. A ditadura não gostou. Algum tempo depois os homens "ganharam" a peça " Agora, traga o seu homem". Devem ter sido peças bem interessantes, talvez eu pesquise sobre isso um dia.
Enfim, voltando ao vídeo, ele repercutiu tanto que a TV portuguesa RTP fez a seguinte reportagem a respeito.
3 de maio de 2010
Virada Cultural 2010 - SP
1 de maio de 2010
Dez (quase) amores
19 de abril de 2010
Saudades
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a Lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!
Nessas horas de silêncio,
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de mágoa e dor,
O sino do campanário
Que fala tão solitário
Com esse tom mortuário
Que nos enche de pavor.
Então - proscrito e sozinho -
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra.
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
- Saudades - dos meus amores,
- Saudades - da minha terra!
27 de março de 2010
Meninos e meninas
Vem comigo procurar algum lugar mais calmo
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita
Tenho quase certeza que eu não sou daqui
Acho que gosto de São Paulo
Gosto de São João
Gosto de São Francisco e São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas
Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre
Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente
Estou cansado de bater e ninguém abrir
Você me deixou sentindo tanto frio
Não sei mais o que dizer
Te fiz comida, velei teu sono
Fui teu amigo, te levei comigo
E me diz: pra mim o que é que ficou?
Me deixa ver como viver é bom
Não é a vida como está, e sim as coisas como são
Você não quis tentar me ajudar
Então, a culpa é de quem? A culpa é de quem?
Eu canto em português errado
Acho que o imperfeito não participa do passado
Troco as pessoas
Troco os pronomes
Preciso de oxigênio, preciso ter amigos
Preciso ter dinheiro, preciso de carinho
Acho que te amava, agora acho que te odeio
São tudo pequenas coisas e tudo deve passar
Acho que gosto de São Paulo
E gosto de São João
Gosto de São Francisco e São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas
24 de março de 2010
Sindicato de ladrões
13 de março de 2010
A casa dos budas ditosos
9 de março de 2010
Lixo
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?
Este texto está no livro O analista de Bagé de Luis Fernando Verissimo.
7 de março de 2010
O tempo não pára
Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou o cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara
Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára
Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando agulha no palheiro
Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára
(Arnaldo Brandão e Cazuza)
6 de março de 2010
Ainda inconstante
4 de março de 2010
Trabalho de homem, trabalho de mulher
A identidade social tanto de homens quanto de mulheres é construída através de papéis sociais distintos, ou seja, a sociedade delimita com bastante precisão os espaços em que a mulher pode operar assim como os espaços em que os homens podem operar. No século XIX os lugares que se atribuíram às mulheres foram a maternidade e o lar, sendo a participação no trabalho assalariado temporário, de acordo com as necessidades da família, sempre como um complemento, uma “ajuda” à renda do marido. Esse papel social da mulher sobrevive até os dias presentes. A educação e a socialização dos filhos é uma tarefa tradicionalmente atribuída às mulheres.
Ao homem do século XIX coube o monopólio da escrita e da coisa pública. A escrita feminina era então estrita e específica: livros de cozinha, manuais de educação e contos recreativos, constituem em geral esta literatura. Mesmo nos dias de hoje em que os homens já não detém o monopólio do espaço púbico tanto quanto antes, a participação das mulheres na política, especificamente no Brasil, é ínfimo. Nas ocasiões em que essas mulheres conseguem se eleger acabam “empurradas” para setores como educação e assistência social, que nada mais são do que extensões de seu papel social de mãe e enfermeira, naturalizando-se deste modo um resultado da história.
A sociedade investe pesado na naturalização desses papéis sociais, tenta fazer crer que a atribuição dos afazeres domésticos à mulher é fruto de sua capacidade de ser mãe. Atribuem a fragilidade feminina à sua constituição física e não a sua imobilidade dentro da sociedade.
É evidente que seres humanos nascem machos ou fêmeas, como a maioria dos animais. Mas é através da educação que eles constroem suas identidades sociais e se tornam homens ou mulheres.
20 de fevereiro de 2010
Tulipa Real
do sol gerado nos febris carinhos,
há músicas, há cânticos, há vinhos,
na tua estranha boca sufarina.
A forma delicada e alabastrina
do teu corpo de límpidos arminhos
tem a frescura virginal dos linhos
e da neve polar e cristalina.
Deslumbramento de luxúria e gozo,
vem dessa carne o travo aciduloso
de um fruto aberto aos tropicais mormaços.
Teu coração lembra a orgia dos triclínios . . .
E os reis dormem bizarros e sanguíneos
na seda branca e pulcra dos teus braços.
(Cruz e Sousa)
16 de fevereiro de 2010
O despertar de uma paixão
2 de fevereiro de 2010
Náufrago
4 de janeiro de 2010
Ano novo
"Pois, desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado,
E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos e que, mesmo maus e inconsequentes, sejam corajosos e fiéis,
E que em pelo menos um deles você possa confiar, que confiando, não duvide de sua confiança.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas
E que entre eles haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiadamente seguro.
Desejo, depois, que você seja útil, não insubstituivelmente útil,mas razoavelmente útil.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente,
E que essa tolerância não se transforme em aplauso nem em permissividade,
Para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.
Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que, sendo maduro,não insista em rejuvenescer e que, sendo velho, não se dedique a desesperar.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.
Desejo, por sinal, que você seja triste, mas não o ano todo,nem em um mês e muito menos numa semana, mas apenas por um dia.
Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom,o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo,
Talvez agora mesmo, mas se for impossível, amanhã de manhã, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes,
E que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.
E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.
Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão e ouça pelo menos um joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal.
Porque assim você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
por mais ridícula que seja, e acompanhe o seu crescimento dia-a-dia,
para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que, pelo menos uma vez por ano, você ponha uma porção dele na sua frente e diga:Isso é meu. Só para que fique bem claro quem é dono de quem.
Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal,
não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.
Mas que esse frugalismo não impeça você de abusar quando o abuso se impõe.
Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por ele e por você.
Mas que, se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.
Desejo, por fim, que sendo mulher você tenha um bom homem,
E que sendo homem, tenha uma boa mulher.E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez,
E novamente, de agora até o próximo ano acabar,
E que quando estiverem exaustos e sorridentes,ainda tenham amor para recomeçar.
E se isso só acontecer, não tenho mais nada para desejar".
Importante: pelo que eu pesquisei esta poesia, de autoria de Sergio Jockymann, foi publicada em 1980 no Jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre-RS mas roda a internet como sendo de Victor Hugo e tem uma música do Frejat que é muuuito inspirada nela, é quase o poema musicado.