7 de dezembro de 2010

Perto do Coração Selvagem

A palavra chave em toda obra de Clarice pode ser o sentir. E sentir não é linear, não é correto, claro ou objetivo, sentir é imensidão, perdição. Sentir é ter um coração selvagem de fato.
E foi sob o impactante título de “Perto do coração selvagem” que Clarice Lispector debutou no mundo literário. Talvez a pouca idade da autora tenha sido a força propulsora dos questionamentos de Joana, a personagem central do livro, senhora dos sentimentos nos quais a obra se foca.
Na primeira parte do livro temos a oportunidade de conhecer Joana ainda menina e já questionadora. É sob a ótica da menina Joana que percebemos o constrangimento e, por muitas vezes, o medo que seu jeito incomum provoca nas pessoas a sua volta, no que vale destacar a reação de sua tia ao vê-la roubar e não demonstrar remorso:

“ […] Não posso cuidar mais da menina, Alberto, juro... Eu posso tudo, me disse ela
depois de roubar...Imagine... fiquei branca. Contei a padre Felício, pedi conselho... Ele tremeu comigo... Ah, impossível continuar! [...]”

É também na infância de Joana que temos a oportunidade de conhecer o professor, uma figura que de algum modo marcaria sua vida e seu despertar para a adolescência, sendo sua primeira 'paixonite'. É através dele também que podemos perceber mais claramente a passagem do tempo que marca a segunda parte do livro, focado em uma Joana já adulta.
Clarice Lispector evidencia com maestria as dificuldades do sentir e por isso a narrativa fragmentada do livro pode se tornar um tanto cansativa para alguns ainda na primeira parte. Entretanto com a inserção de novos conflitos na segunda parte ganha novo fôlego e segue prendendo a atenção e, porque não, despertando questionamentos também nos leitores.
Quando ela reencontra o professor, às vésperas de seu casamento com Otávio, o encontramos envelhecido, decadente e ainda assim capaz de despertar um certo interesse em Joana, visto que apesar da idade, da doença e do abandono da esposa o homem não demonstrava grandes tristezas.
Na fase adulta, Joana encontra-se perdida entre lembranças, questionamentos internos e conflitos externos com seu marido, Otávio, e Lídia, prima, ex-noiva e amante de Otávio.
E é através dos conflitos desses três personagens, ora com eles mesmos, ora uns com os outros, que uma nova face da obra se revela diante de nossos olhos.
Não se trata mais apenas do sentir e do perder-se em sentimentos. Agora trata-se também e, talvez, principalmente de solidão.
Otávio se revela uma criatura “[...] para quem a vida nunca passaria de uma estreita aventura individual [...]”, que se refugia em Lídia e faz dela seu porto seguro para o mar tempestuoso que é Joana.
Lídia, noiva abandonada, com sua aparentemente ilimitada capacidade de se doar, de dar sem nada pedir. No fundo também covarde “[...] calada como era, sem ter propriamente o que dizer [...]” ainda tenta se rebelar contra seu estado natural de conformismo ao se descobrir grávida de Otávio. Mesmo essa súbita tentativa não passará disto: tentativa. O comodismo do sempre igual, neste ponto de sua vida, não poderá mais ser superado.
Agora Joana adulta já terá se revelado solitária, incapaz de ser mansa como Lídia, de se recolher à insignificância de seus hábitos como Otávio e incapaz também de permitir que os outros vivam em suas zonas de conforto do mascarar e ignorar sentimentos.
E depois desse passo significativo na viagem de auto-descoberta de Joana seu coração parece encher-se de esperança rumo ao futuro e suas possibilidades de ser.
A esperança é, afinal, também uma possibilidade.
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Reli esse livro esse semestre para uma das minhas aulas e me lembrei do quanto gostava dele. Definitivamente um dos melhores!

18 de novembro de 2010

12ª Festa do Livro da USP

Entre os dias 24 e 26 de novembro acontecerá a 12ª Festa do Livro da USP, com descontos mínimos de 50% no saguão do prédio da geografia e história na Cidade Universitária.
A relação completa das editoras participantes teoricamente deveria estar no site da EDUSP mas até agora não consta, quem sabe daqui uns dias . . .
Mas tenho certeza de que a feira acontecerá não se preocupem!


Quando:24, 25 e 26 de novembro de 2010
Horário: das 9:00 às 21:00 horas
Onde: Saguão do prédio da geografia e história, Cidade Universitária

13 de novembro de 2010

Noite de luar

Ela estava aborrecida. Teria companhia só até a metade do caminho de volta para casa.
Sexta-feira, feriado na segunda, o fretado contratado deu o cano e, como tudo e todos nessa cidade maldita, culpou o trânsito.
Como se realmente ainda fosse possível para qualquer paulistano culpar o trânsito por qualquer coisa. Ele era sempre caótico, especialmente ruim às sextas. Bobagens, coisa de gente sem compromisso e ela detestava gente sem compromisso, talvez porque fosse comprometida demais consigo mesma.
Se despediu do amigo com um beijo no rosto enquanto sentia o mau-humor aumentar. Subiu as escadas da estação de metrô, mochila nas costas e logo na catraca o viu.
Pálido, muito pálido. Um tanto quanto magro demais, cavanhaque no melhor estilo cafajeste ou 'acredito ser um grande sedutor'. Talvez ele fosse.
Mas foi o conjunto que a fez encará-lo por mais tempo do que seria educado. Foi mal interpretada, ele sorriu. Ela viu os dentes pontudos se destacarem dos demais, isso reforçou sua impressão: ele parecia um vampiro.
Não um vampiro de hoje em dia, um daqueles dos anos 90, quando eles ainda davam medo e não tinham aprendido a brilhar.
Deveria ter imaginado que aquele era um sinal. Sinal de que as duas quadras e meia que teria de caminhar até chegar em casa seriam longas. Mas não imaginou.
Saiu da estação, escuro e um tanto assustador como seria de se esperar às 23:30 no centro velho de São Paulo.
Passou pelo bar logo na primeira esquina, último ponto que tinha certeza estaria movimentado.
Seguiu, alguns passos mais tarde viu uma sombra, olhou para trás. Um cara franzino, vinte e poucos anos. Dois amigos conversavam alto logo em frente. Não sentiu medo. Mais alguns passos e o rapaz franzino tentou puxar a alça da sua mochila cor de rosa choque. Apressou o passo enquanto chacoalhava a cabeça, pensando nos malucos nessa cidade.
Não achou que seria assaltada, esfaqueada, estuprada. Não, teve a nítida impressão de que ele gostara da mochila e só.
Quase em casa. Não tinha sido tão ruim.
A meia quadra do portão do prédio eis que surge um sujeito, sacola de supermercado nas mãos, gorro na cabeça e pit bull na coleira. O cachorro late e avança, sem focinheira. Desta vez ela se assusta, já não gosta de cachorro. O dono segura o cão e sorri:
"Ele é manso"
Tem vontade de discordar mas só sorri em resposta e dá a volta, bem longe do cachorro.
Mais alguns passos, olha para o céu. Nenhuma estrela, nenhuma lua. Tempo feio.
Sorriu, talvez se o tempo estivesse aberto pudesse ver a lua. Lua cheia é claro! Só poderia ser noite de lua cheia para as ruas estarem cheias de malucos estranhos.

10 de novembro de 2010

Festival do livro e da Literatura de São Miguel

Nos dias 18, 19 e 20 de novembro será realizado o Festival do livro e da Literatura de São Miguel, que nesta edição estará nas ruas, nas praças, nos corredores de ônibus, nos pontos de leitura, nas escolas e nos clubes da comunidade com uma programação ampla e repleta de ações focadas na literatura e no estimulo a leitura.
Maiores informações, aqui.

Aurora da minha vida

No dia 17 de novembro será apresentada no CEU Quinta do Sol a peça "Aurora da minha vida" de Naum Alves de Souza.
O espetáculo é parte de uma trilogia e retrata os vários tipos encontrados em um ambiente escolar, entre alunos e professores, e os costumes que sobrevivem a gerações.
A peça ficará em cartaz no Teatro Bibi Ferreira até 21 de novembro mas lá o ingresso custa R$40,00.
Nos CEUs é de graça!

17 de outubro de 2010

Como as coisas são

Acho que colocarei uma tag de falando bobagens nisso aqui. Mas vamos lá.
Como as coisas são?
A vida é complicada ou é a gente que complica?
Sempre temos escolhas ou não? Gostamos de pensar que não temos escolha porque isso justifica o injustificável?
Existe algo injustificável?
Onde quero chegar com isso aqui? Provavelmente ao mesmo lugar em que quero chegar com a vida. Não sei ao certo.
Em dias assim a mente se enche de bobagens, perguntas sem respostas e respostas sem sentido.
Mas de uma coisa eu sei: em dias assim os amigos são sempre, e mais que sempre, muito bem vindos.
Aos amigos: o eterno agradecimento!
E o silêncio. O denso, o imenso silêncio . . .

9 de outubro de 2010

The Veronicas



Uma coisa que nunca disse por aqui é o quanto gosto de vocal feminino. Então basicamente qualquer banda com mulheres nos vocais ou banda de garotas tem potencial para atrair minha atenção.
Nesse contexto uma das que mais gosto, embora goste de muitas, é a banda The Veronicas formada pela gêmeas australianas Lisa e Jessica Origliasso.
Elas debutaram como banda com o álbum "The Secret Life Of …" cujo lançamento mundial foi em 2007, depois do sucesso do álbum na Austrália (2005 com 300.000 cópias vendidas) e nos E.U.A. (2006).
O álbum trata basicamente de anseios tipicamente femininos, a angústia de se sentir sufocar, de se tornar quem não se quer ser por outra pessoa, e quem de nós nunca fez isso que atire a primeira pedra.
Creio que mereçam destaque nesse álbum as músicas "Secret" pelo leve tom de ironia e porque toda garota já teve ou terá um maluco/esquisitão em sua vida, fato.
"Leave me alone" pela batida interessante, "Speechless" para quem curte as mais calmas e "Mother mother" com violão acentuado no início e o leve desespero rock'n roll do meio para o final.
O segundo álbum das garotas foi escrito dois anos depois do primeiro e musicalmente se percebe uma mudança de direção, indo de encontro ao eletrônico com músicas como "Untouched" e "Hook me up" embora "In another life", uma das minhas preferidas, não vá por essa linha.
Mas o que provavelmente tem mais chances de te deixar com vontade de ver um show é o "Revenge is sweeter tour" CD/DVD da turnê delas, onde é possível sentir melhor a energia e imaginar como seria vê-las ao vivo.
Da última vez que soube, elas se preparavam para lançar uma linha de roupas, obviamente não tenho nenhuma esperança de que isso chegue a estes lados mas . . .
É por tudo isso e provavelmente por muito mais que essas gêmeas australianas estilosas e radicadas em L.A. merecem ser um pouco mais conhecidas por aqui!



1 de outubro de 2010

Constituição, eleição e etc . . .

Depois desses 22 anos de Constituição talvez haja mais perguntas do que respostas. Discussões sobre o quanto ela influência as relações sociais e as políticas públicas, sobre o quanto a gestão pública mudou a partir de 1988 e o que esta Carta trouxe de novo em termos de direitos e cidadania ainda estão em aberto.

Há duas formas distintas de se fazer esta análise, por um lado alguns pesquisadores respeitáveis afirmam que a Constituição de 1988 atendeu a reivindicações de movimentos sociais, por outro pesquisadores igualmente respeitáveis afirmam que ela tem um alto custo, atribui muitos direitos e por isso engessa as políticas públicas.

Entretanto para de fato compreender essa discussão é necessário se debruçar sobre as instituições que formam o sistema de justiça, pois é através delas que se desenham as garantias formais de direitos. No Brasil se escolheu o presidencialismo mas o desenho de relações é parlamentarista. Dentro dos poderes Executivo e Legislativo o voto é de coalizão e vale ressaltar ainda o excesso de Medidas Provisórias. Desse modo o Judiciário acaba por ocupar o espaço da garantia dos direitos e assume a função de incluir os excluídos no exercício desses direitos.

Vale ressaltar ainda que todas as outras cortes do mundo foram concebidas para funcionar como Cortes Constitucionais dentro de um regime estável, enquanto no Brasil o que vigora é o caos institucional, o que certamente dificulta o trabalho do Supremo. Há ainda o fato de que não apenas no Supremo mas também juízes de 1º e 2º grau cometem “falhas” por decisões políticas, pois não existe juiz ou procurador neutro, quando muito estes conseguem ser imparciais.

De 1988 à 1992 a maioria dos magistrados não julgava de fato pois faltava o julgamento de mérito. Assegurar o ingresso à justiça nesse tipo de sistema é discutível pois o que se coloca em xeque é a capacidade desse Judiciário de fazer justiça de forma efetiva.

O texto da Constituição Federal resultou de lutas não lineares e nada simples e por essa razão o texto constitucional não é nem linear nem simples. Na época acreditou-se que o texto satisfazia as necessidades do país e que bastaria que as Instituições se amoldassem a ele.

Se por um lado existem as críticas insinceras que afirmam que o texto constitucional é muito extenso e ainda assim ineficaz e ineficiente, pois pretensamente nada regula ou regula mal e anda de mãos dadas com infratores, existem também as críticas sinceras que precisam ser levadas em conta, uma vez que de fato o texto constitucional foi elaborado em meio a uma grande tensão e isso se reflete em suas linhas e muito do que foi aprovado pelos constituintes não entrou na redação final da Constituição Federal. A Constituição de 1988 acabou por adotar um desenho liberal para organizar um Estado social.

Para encerrar vale destacar o fato de que a Carta Constitucional não se faz sozinha e o Estado é de obrigação de seus cidadãos. A Constituição não é mais apenas uma carta de competência, por tanto não é mero instrumento de poder. A norma não é apenas texto mas também, e talvez principalmente, contexto. O poder constitucional não se limita ao poder formal e institucionalizado, é o poder informal e difuso que opera no cotidiano que dota de vida o texto constitucional e possibilita transformações (formais ou não) do ordenamento constitucional.


Desencavei esse texto lá do início/quase meio da graduação . . . Por que? temos eleições no domingo e galera por favor pesquisem a vida pregressa de seus candidatos. Não custa nada e quase não demora em tempos de internet banda larga!

5 de setembro de 2010

VI Semana de Gestão de Políticas Públicas

O tema da VI Semana de Gestão de Políticas Públicas, organizada pelo corpo discente do curso de mesmo nome da USP (GPP) terá como tema: " Para além do voto: o papel das políticas públicas no fortalecimento da democracia brasileira" e será realizada entre os dias 21 e 24 de setembro de 2010.
Segue resumo da programação:

21/09
14:00 às 17:00 - Cine GPP
19:00 às 22:00 - Mesa de abertura: " Para além do voto: o papel das políticas públicas no fortalecimento da democracia brasileira"

22/09
09:00 às 12:00 - Mesa "Políticas públicas: qual o espaço da ideologia?"
19:00 às 22:00 - Mesa " A internet como ferramenta democrática"

23/09
9:00 às 12:00 - Mesa " O desafio da democracia participativa"
14:00 às 17:00 - Dia do curso
Atividade para alunos de ensino médio e cursinhos, com breve palestra sobre a unidade e mini-feira de profissões com os cursos oferecidos.
19:00 às 22:00 - Mesa "Economia e democracia"

24/09
9:00 às 12:00 - Mesa "Como construir a democracia em um dos países mais desiguais do mundo?
14:00 às 17:00 - Apresentação de trabalhos científicos dos alunos.
19:00 às 22:00 - Fórum de coordenadores

As inscrições para participantes externos devem ser feitas através do blog do evento, que também possui detalhes a respeito dos convidados.


VI Semana de Gestão de Políticas Públicas
Quando: 21 a 24 de setembro
Onde: Av. Arlindo Bettio, nº 1000 - Bairro Ermelino Matarazzo SP/SP
(acesso pela estação USP Leste da CPTM - linha safira)

30 de agosto de 2010

Puro preconceito

Esse semestre faço matéria na FEUSP (Faculdade de Educação da USP) e admito meu estranhamento ao me deparar com os meninos de pedagogia, ou melhor com o menino porque só encontrei um até agora.
É o mesmo tipo de estranhamento que um pai encontrou quando o filho disse que queria ser dono de casa, em um seriado que assisti em uma madrugada insone dessas.
Comentei o assunto com um amigo e ele disse que homem fazendo pedagogia é muito estranho, ou é gay ou é pedófilo. Óbvio que o amigo em questão não falava sério mas é o tipo de piada que reflete nossos preconceitos mais arraigados quanto ao que supostamente é trabalho de homem e trabalho de mulher, aliás já falei um pouco a respeito caso alguém se interesse.
Mas voltando ao ponto, homem fazendo pedagogia ou querendo ser dono de casa não deveria causar estranhamento visto que mulheres querendo estudar pedagogia não causa. Mas admito aqui mais um preconceito, nos dias de hoje me parece estranho, quase inconcebível, em um meio urbano como o meu (São Paulo) alguém, seja homem ou mulher, planejando uma vida de dono(a) de casa. Na realidade me parece frustrante, entretanto tenho certeza de que essa frustração é fruto tão somente da minha carga de valores e é um tanto incômodo a percepção tão clara desses preconceitos mas creio sinceramente que a admitir meus preconceitos seja o primeiro passo para me livrar deles.
Preconceito: eu tenho os meus. Quais são os seus?


9 de agosto de 2010

Semana de Artes e Feira do Livro

Essa é para o pessoal de Garulhos e região.
Entre os dias 13 e 17 de setembro ocorrerá a II Semana de Artes Unifesp que contará com teatro, dança, esquetes de palhaço, contação de histórias, intervenções artísticas, varal literário, exposições, bate-papo com grandes escritores, palestras, vídeos-poemas, curtas metragens e um show de MPB. E entre os dias 15 e 17 de setembro ocorrerá a IV Feira do Livro Unifesp, com o desconto de 50% como é de praxe nas feiras universitárias.
Para maiores informações clique aqui.

31 de julho de 2010

O livro dos contos enfeitiçados

Depois de mais de um mês de ausência cá estou eu, no dia do aniversário do meu querido Harry, para falar de duas coisas das quais gosto muito: livros e magia.
Mas não falarei de Harry Potter, primeiro porque acredito que todo mundo já leu e/ou assistiu, então não tem graça. Segundo porque hoje pela primeira vez desde que me lembro li uma matéria quase legal a respeito do Harry em um site grande que não pertence ao fandom e isso me deixou feliz com a minha dose diária de Harry Potter.
Então vamos ao que interessa. Já faz algum tempo que descobri esse livro nas máquinas do metrô e o que mais me chamou atenção foi a capa. Adorei a arte de Camila Mesquita.


O livro de autoria de Martha Argel reúne sete contos de literatura fantástica, entre os quais eu destacaria o primeiro "Amarelo ... Amarelo", que narra a história de uma artista plástica que de repente se vê às voltas com os cuidados à uma sobrinha que acabara de ficar órfã. A menina nutria uma estranha obsessão por amarelo e é através dessa obsessão infantil que a tia, obcecada em encontrar a beleza perfeita e evidente em suas obras, descobrirá a complexidade da beleza incomum formada pela união de coisas aparentemente simples em demasia. No caso, o amarelo.
Talvez também mereça algum destaque o segundo conto "Eu detesto futebol" afinal ele trata de uma paixão nacional. No conto em questão, bruxas brasileiras cujos maridos ultrapassavam os limites da razoabilidade na opinião delas, se juntam para apagar da história a invenção chamada futebol, quase desnecessário dizer que "o remendo saiu pior que o soneto".
O livro conta ainda com os contos: "O verdadeiro poder"; "O olho vermelho"; "Final feliz"; "O livro dos contos enfeitiçados" e "Sofia" .
Vale a pena sem dúvida!

Coleção: COLEÇÃO NOVOS CAMINHOS
Autor: ARGEL, MARTHA
Editora: LANDY
Assunto: LITERATURA BRASILEIRA - CONTOS E CRÔNICAS
Preço estimado: R$25,00

25 de junho de 2010

Esquadrão da Moda - De muito mau gosto

Primeiro quero que vocês assistam o vídeo a seguir que tem apenas 32 segundos pois todo o post se baseia nele:



Eu acho que entendi o que tentaram dizer, o programa de fato só se preocupa com a moda e não com outras questões sociopolíticas. Tudo bem mas acredito que eles atiraram no que viram e acertaram no que não viram porque o que a chamada não diz, e talvez não quisesse mesmo dizer, mas nos induz a pensar é que no meio da moda aspectos como caráter e respeito aos direitos humanos não importam, o que é um absurdo claro.
Concordo que é um mundo em que se lidam com egos, muitas vezes demasiadamente inflados, mas isso ocorre em muitas áreas. E do modo como foi colocada a questão o que eu vejo é uma futilização da moda e é engano pensar que a moda é apenas isso, ela pode ser isso também mas ela é maior. Tem aspectos interessantíssimos sobre a moda, sua história e evolução. Ou alguém duvida que o guarda-roupa feminino do século XIX, todo ele pensado de modo a restringir os movimentos físicos e explicitar uma suposta fragilidade feminina, era um reflexo e também um mecanismo de reforço à condição restritiva da mulher na sociedade?
Essa chamada é no mínimo de gosto duvidoso e quem a pensou, na minha opinião, não soube transmitir o que, penso eu, de fato quis dizer. E claro prestou um desserviço.

16 de junho de 2010

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

14 de junho de 2010

Bem posicional

Outro dia eu falei sobre a parte pequenina, infantil e boba que ainda não aprendeu a ser feliz com a felicidade alheia.
Como o mundo não é cor de rosa e viver é se decepcionar constantemente, assistindo The Big Bang Theory descobri que meu pensamento amargo e infundado talvez não seja assim tão infundado.
Graças ao Sheldon, destruidor de sonhos e ainda assim meu nerd mais querido, me deparei com um tal de bem posicional que descobri é basicamente o que o Sheldon disse: "o objeto é valioso para o dono porque não é possuído pelos outros" (só não ficou claro se o autor é mesmo o economista que o Sheldon menciona, acho que não).
De qualquer forma acho que é isso, de nerdse em nerdse a gente vai crescendo rsrs e era sobre TBBT (e suas utilidades inúteis ou inutilidades utéis ??) que eu queria falar. Não assistiu ainda?? Tá esperando o que? É bom demais :D

7 de junho de 2010

O poeta fingidor

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
(Ricardo Reis)

6 de junho de 2010

E o Oscar vai para . . .

Quero falar de bobagens pseudo-filosóficas hoje, então vamos lá.
Não somos os protagonistas de todas as histórias, não raro nos habituamos até mesmo a não sermos nunca.
A verdade é que as vezes caímos no meio das histórias de outras pessoas e nos sentimos deslocados, desejosos de que aquela história fosse também nossa história. Mas nem sempre isso é possível e não necessariamente é ruim sermos os coadjuvantes das histórias alheias porque é quase certo de que em nossas histórias existam coadjuvantes, muitos dos quais serão brilhantemente vividos por boas pessoas.
Penso que sou coadjuvante na vida de muitas pessoas, me sinto feliz por fazer parte de tantas histórias distintas e sinto-me também bastante honrada.
Acredito que cai no meio da história de outrem e isso me fez pensar que nem sempre quem ganha o Oscar é o protagonista, perceber que talvez não devêssemos desejar sempre e tão desesperadamente que a história alheia seja nossa história, as vezes basta podermos observar, aprender e sorrir com o riso alheio.
E assim seguimos, sem grandes ressentimentos, só com os pequenos. Frutos daquela parte infantil e boba que ainda não aprendeu a ser feliz com a felicidade alheia, aquela mesma que não se satisfaz em ser feliz, precisa que o outro não seja.
Mas isso é outra coisa e falo disso em outro dia . . .

5 de junho de 2010

Evento em Osasco

A quem interessar possa, haverá comemoração dos 44 anos da Vila Menck, localizada em Osasco, na Grande São Paulo.
O evento contará com shows, cinema, feira de artesanato, exposição de carros antigos, festival de bandas de garagem, atividades circenses, dança, sarau, graffiti entre outros.
Vale a pena destacar que um dos convidados do evento é o grupo "O teatro mágico", que apresentará os grupos " Octopus" e "Pindorama".
A realização do evento é do Ponto de Cultura Quilombaque e acontecerá a partir do dia 05 de junho (sábado) com intervenção de grafiteiros em muros da região e continua no dia 06 (domingo), a partir das 10h, nas ruas Joaquim Severino Alves, Lauro Ferreira Santos, Embu Guaçú e Rio Grande da Serra. Em cada uma delas estará posicionado um palco -popular, hip hop, regional, garagem e evangélico.
O recado está dado.

4 de junho de 2010

Juramento

Tu dizes, óh Mariquinhas,
Que não crês nas juras minhas,
Que nunca cumpridas são!
Mas se eu não te jurei nada,
Como hás de tu, estouvada,
Saber se eu as cumpro ou não?!

Tu dizes que eu sempre minto,
Que protesto o que não sinto,
Que todo poeta é vário,
Que é borboleta inscontante;
Mas agora, nesse instante,
Eu vou provar-te o contrário.

Vem cá, sentada ao meu lado
Com esse rosto adorado
Brilhante de sentimento,
Ao colo o braço cingido,
Olhar no meu embebido,
Escuta o meu juramento.

Espera: - inclina essa fronte . . .
Assim! - Pareces no monte
Alvo lírio debruçado!
- Agora, se em mim te fias,
Fica séria, não te rias,
O juramento é sagrado:

"- Eu juro sobre estas tranças,
E pelas chamas que lanças
Desses teus olhos divinos:
Eu juro, minha inocente,
Embalar-te docemente
Ao som dos mais ternos hinos!

Pelas ondas, pelas flores,
Que se estremecem de amores
Da brisa ao sopro lascivo;
Eu juro, por minha vida,
Deitar-me aos teus pés, querida,
Humilde como um cativo!

Pelos lírios, pelas rosas,
Pelas estrelas formosas,
Pelo sol que brilha agora,
-Eu juro dar-te, Maria,
Quarenta beijos por dia
e dez abraços por hora!"

O juramento está feito,
Foi dito co'a mão no peito
Apontando ao coração;
E agora - por vida minha,
Tu verás, óh moreninha,
Tu verás se o cumpro ou não! . . .


Casimiro de Abreu - Rio - 1857.

31 de maio de 2010

Blasé

Não se importe com nada nem ninguém se não a si mesmo e assim, meio descontente meio leviano, vá levando.
Porque ser blasée não é mais privilégio do femino, agora no masculino esse seu ar blasé vai vingando.
Não se afete com que te importa e siga se enganando. Se importe com que não te afeta e vá andando.

*Porque as vezes até me dá vontade de escrever alguma coisa, principalmente quando vejo gente que escreve. Mas ainda quero um dia de trinta horas.

29 de maio de 2010

Meninos bons X meninos maus

"Toda mulher gosta de canalha" "No fundo no fundo eu sei que ela gosta disso" e todo essa conversa machista e sexista é o tipo de coisa que fez durante muito tempo, e infelizmente ainda faz, com que mulheres não sejam levadas a sério quando denunciam abusos sexuais.
Uma coisa que me aborrece muitíssimo é que muitas pessoas, mulheres inclusive, repetem esses jargões sem se darem conta da gravidade do que propagam.
Sem mencionar o fato de que essa de gostar de canalha é coisa de gente burra, seja você um homem ou uma mulher.
Conheço pessoas que já namoraram sujeitos que não valiam a pena e alimentaram a tola esperança de que ele algum dia mudaria, pois eu digo que não acredito nisso. Depois que deixamos a infância, onde as bases do nosso caráter se estabelecem será necessário algo muito grave para que mudemos drasticamente. Não estou dizendo que somos seres estáticos, só que raramente depois de adultos sofremos uma mudança "medular" por assim dizer.
E esperar que alguém mude por você é se dar demasiada importância.
Existem homens canalhas, existem mulheres canalhas e eles provavelmente não mudarão e continuarão canalhas.
Existem pessoas que você acha que são corretas porque elas parecem corretas em alguns campos de suas vidas mas não em todos e você acredita, porque quer acreditar, que se essas pessoas não agem sempre com retidão é porque a vida não lhes permite.
Pois eu direi qual é minha humilde opinião, Dalai Lama que é um sujeito que sabe algumas coisas, já disse que a vida é um todo indissolúvel e eu concordo com ele nesse ponto, embora seja necessário frisar que não concordo em todos.
Mas voltando ao ponto que importa, você não pode esperar que uma pessoa que não é correta com os outros seja correta justamente com você. As coisas não são assim.
Então o melhor que pessoas boas tem a fazer, para evitar aborrecimentos e decepções, é procurar as pessoas que já são legais, selecionar mesmo e ficar sozinho quando não encontrar alguém assim (e aqui eu estou falando de ficar solteiro não solitário, que são coisas bem distintas).
É por isso que eu gosto dos bonzinhos, dos meninos gentis e educados, dos garotos que são os filhos que eu quero ter um dia. E se puder ser bonzinho e nerd tanto melhor, e não porque os nerds de hoje são os ricos de amanhã e sim porque faço piadas e comentários ácidos que só nerd entende e não tem graça se tiver de explicar.
Então, viva os meninos bons!
E se aparecer algum canalha/mala sem alça e sem rodinhas pelo caminho, chuta que é macumba!

25 de maio de 2010

Quem leu, leu. Quem não leu não lê mais :p

Oh sim para quem acompanha o blog o último post foi excluído coisa que em um primeiro momento é contra meus princípios pela mesma razão que faz com que não me meta nos comentários. Além do que ninguém pode apagar quem foi ou o que viveu, ainda assim deletei. Estava stressada demais, ainda estou mas enfim . . .
É isso, não que eu ache que muita gente se importe, acho que é mais uma explicação que devo a mim.
Até um futuro próximo, espero. Bye!

22 de maio de 2010

A importância de ter fé

O telefone toca, do outro lado da linha:
- Olá, eu sou a Mariana do Netcombo, eu gostaria de falar com a responsável pela linha, a senhora Fernanda.
- Um minuto.
- Alô?
- Eu sou a Mariana do Netcombo, eu gostaria de falar com a dona Fernanda.
- Sou eu - Fernanda respira fundo e pede paciência, já imagina o que seja.
- Dona Fernanda, a senhora já conhece os serviços do Netcombo?
- Sim e não estou interessada.
- A senhora não está interessada?
- Não.
- A senhora já tem acesso a internet de banda larga?
- Sim.
A operadora do outro lado da linha respira pesado, provavelmente um tanto perdida pela resposta monossilábica.
- E telefone, a senhora já tem telefone em sua residência?
Nesse ponto, Fernanda fica petrificada. Pensou em dizer: "não, estamos tendo essa conversa por telepatia". Mas isso provavelmente seria grosseiro demais e ela tinha horror a grosserias, ainda que perguntas como essa talvez merecessem.
- Sim eu já tenho telefone em casa.
- A senhora não está mesmo interessada nos serviços?
- Não.
Outra respiração pesada da operadora.
- Está bem, a Netcombo agradece sua atenção.
Fernanda desliga o telefone ainda afetada pela pergunta, pensa um pouco mais a respeito. Talvez a moça só tenha colocado no automático e nem tenha se dado conta do que disse. É isso, automático, só podia ser isso, a alternativa era ruim demais e ela precisava ter fé.
*os nomes claro foram mudados, mas juro que tive uma conversa bem parecida com essa com uma funcionária que tentava vender Netcombo e eu quero crer que ela não gosta do que faz e não presta atenção no que diz. O que vocês acham?

9 de maio de 2010

Sobre aqueles que mamam

O vídeo foi ao ar faz um tempo e aposto que muita gente já viu.
Eu o vi a quase um mês e quis postar aqui mas sempre esquecia . . .
Agora eu lembrei!



Cidinha Campos foi atriz, apresentadora, comunicadora e a primeira repórter internacional do Fantástico. Já foi deputada federal e atualmente é deputada estadual (RJ). Foi relatora da CPI da Previdência.
Curioso é que ela fez uma peça de teatro depois que foi demitida da Globo chamada "Homem não entra" em que homem não entrava mesmo e que deu muito o que falar. A ditadura não gostou. Algum tempo depois os homens "ganharam" a peça " Agora, traga o seu homem". Devem ter sido peças bem interessantes, talvez eu pesquise sobre isso um dia.
Enfim, voltando ao vídeo, ele repercutiu tanto que a TV portuguesa RTP fez a seguinte reportagem a respeito.



Quem quiser saber mais pode acessar o site dela aqui. Eu recomendo o "Pra lamentar" e as receitas. Sim! O site dela tem receitas, aparentemente a deputada gosta de cozinhar.

3 de maio de 2010

Virada Cultural 2010 - SP

E saiu a programação da virada cultural deste ano que será realizada nos dias 15 e 16 de maio.
A programação como sempre está bem diversificada e tem para todos os gostos. Eu particularmente gostei muito da "Dimensão Nerd" na Praça Roosevelt, da "Maldição do lobisomem" no Cine Dom José e a ideia do "Trem das onze", com viagens musicais e mostra de exibição fotográfica nos trens da CPTM indo da Luz ao Brás, me encantou.
Mas claro tem muito mais e quem quiser ver a programação completa é só clicar aqui.

1 de maio de 2010

Dez (quase) amores

Depois de um mês quase sem postar reapareço com a cara de pau que me cabe só para treinar um pouquinho a escrita e falar de um bom livro graciosamente despretensioso que li no mês passado.
A tempos não lia um livro só pelo prazer de ler, sem cobranças, sem preocupações, sem tentar adivinhar, quase com certeza sem sucesso, o que exatamente o professor vai cobrar na próxima grande prova.
E o livro é "Dez (quase) amores", de Claudia Tajes.
Embora narre as desventuras amorosas, sexuais e pseudo-sexuais de uma jovem jornalista que atende pelo nome de Maria Ana não espere nada tão erotizado quanto em "A casa dos budas ditosos". Ao invés disso, espere mais risos, seja na narrativa da primeira desilusão amorosa que fez com que a menina Maria Ana se desse conta da temporariedade do amor, seja no episódio em que a mesma acaba como refém ao cobrir um sequestro. Este último é em minha opinião o mais engraçado do livro todo.
Para se divertir, para ler por puro prazer e se identificar com Maria Ana, sempre atrapalhada e perdida mas encantadoramente crédula no amor é que eu recomendo esse livro: "Dez (quase) amores".
Título: Dez (quase) amores.
Editora: L&PM.
Gênero: Literatura brasileira - Contos e Crônicas.
Preço estimado: R$ 12,00.

19 de abril de 2010

Saudades

Nas horas mortas da noite
Como é doce o meditar
Quando as estrelas cintilam
Nas ondas quietas do mar;
Quando a Lua majestosa
Surgindo linda e formosa,
Como donzela vaidosa
Nas águas se vai mirar!

Nessas horas de silêncio,
De tristezas e de amor,
Eu gosto de ouvir ao longe,
Cheio de mágoa e dor,
O sino do campanário
Que fala tão solitário
Com esse tom mortuário
Que nos enche de pavor.

Então - proscrito e sozinho -
Eu solto aos ecos da serra
Suspiros dessa saudade
Que no meu peito se encerra.
Esses prantos de amargores
São prantos cheios de dores:
- Saudades - dos meus amores,
- Saudades - da minha terra!

...1856
Casimiro de Abreu.

27 de março de 2010

Meninos e meninas

Quero me encontrar, mas não sei onde estou
Vem comigo procurar algum lugar mais calmo
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita
Tenho quase certeza que eu não sou daqui

Acho que gosto de São Paulo
Gosto de São João
Gosto de São Francisco e São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas

Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre
Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente
Estou cansado de bater e ninguém abrir
Você me deixou sentindo tanto frio
Não sei mais o que dizer

Te fiz comida, velei teu sono
Fui teu amigo, te levei comigo
E me diz: pra mim o que é que ficou?

Me deixa ver como viver é bom
Não é a vida como está, e sim as coisas como são
Você não quis tentar me ajudar
Então, a culpa é de quem? A culpa é de quem?

Eu canto em português errado
Acho que o imperfeito não participa do passado
Troco as pessoas
Troco os pronomes

Preciso de oxigênio, preciso ter amigos
Preciso ter dinheiro, preciso de carinho
Acho que te amava, agora acho que te odeio
São tudo pequenas coisas e tudo deve passar

Acho que gosto de São Paulo
E gosto de São João
Gosto de São Francisco e São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas





Hoje Renato Russo, que nasceu Renato Mandredini Júnior, completaria 50 anos mas os bons morrem cedo e, assim como Cazuza, Renato Russo morreu em decorrência do vírus do HIV em 11 de outubro de 1996.

24 de março de 2010

Sindicato de ladrões

Se eu tivesse assistido antes provavelmente teria me tornado fã de Marlon Brando muito mais cedo.
Nesse filme de 1954 ambientado no cais, Marlon Brando interpreta maravilhosamente Terry Malloy, um ex-boxeador tido por todos como um vagabundo que se juntou ao irmão Charley (Rod Steiger) em seus negócios escusos. A vida de Terry começa mudar quando entra em cena a senhorita Doyle, cujo irmão foi atraído para uma emboscada por Terry mas o que o ex-boxeador não sabia é que ele seria morto em tal emboscada.
Não é preciso dizer que Terry se encanta pelo jeito determinado da senhorita Doyle que se recusa a desistir de descobrir e denunciar o(s) culpado(s) pela morte de seu irmão.
Entretanto o que realmente prende a atenção nesse filme são os negócio escusos. O filme basicamente se propôs a, da forma mais realista possível, retratar um problema epidêmico nos Estados Unidos da época: a infiltração da máfia nos sindicatos estadunidenses.
Embora tenha se proposto a ser um filme realista o final é um tanto romanceado, o diretor declararia mais tarde que tinha consciência de tal fato mas optou por um final que despertasse a esperança no telespectador justamente por saber que estavam longe de extirpar a máfia de seus sindicatos.
De fato nos Estados Unidos de então a coisa tinha alcançado tal ponto que levariam-se décadas para resolver o problema e se faria necessário a criação de legislação penal específica uma vez que a legislação trabalhista não deu conta de resolver tal coisa.
Se isso não é o suficiente para te fazer assistir, talvez saber que o filme foi indicado ao Oscar em dez categorias e venceu oito, foi indicado ao Bafta onde Marlon Brando venceu na categoria de melhor ator estrangeiro, ao Globo de Ouro onde venceu nas categorias de melhor filme - drama, melhor diretor, melhor ator - drama (Marlon Brando) e melhor fotografia - preto e branco, sem falar no Leão de Ouro, seja o suficiente.

13 de março de 2010

A casa dos budas ditosos

O livro de João Ubaldo Ribeiro foi originalmente escrito para a série "Plenos Pecados" da editora Objetiva com o intuito de representar o pecado da luxúria.
Ele narra as aventuras e desventuras de uma baiana já idosa e radicada no Rio de Janeiro. De leitura fácil e divertida o livro interessará especialmente às mulheres liberais e liberadas e aos homens interessados e, quem sabe, interessantes.
Entretanto a "Casa dos Budas Ditosos" não se restringe à uma narração sexual, é possível observar em suas entrelinhas o machismo arraigado na sociedade brasileira até os dias de hoje e os verdadeiros malabarismos das mulheres para driblá-lo, bem como algumas das mudanças de costumes quando o assunto é sexo, especialmente depois do advento da pílula anticoncepcional, e alguns dos dilemas que podem ocorrer em mentes educadas dentro de uma doutrina cristã de culpa e de pecado.
Vale destacar ainda o episódio em que a personagem principal perde a virgindade. Narrado com maestria pela baiana que tenho certeza conquistará você, qualquer semelhança entre ela e as muitas estudantes encontradas não apenas nos bancos universitários mas também nos cursinhos e salas de aula de colegial talvez não sejam mera coincidência. Essa e muitas outras passagens do livro certamente te farão dar boas risadas.
O texto foi adaptado em 2004 por Domingos de Oliveira e Fernanda Torres deu vida ao monólogo criado por ele.
Título: A Casa dos Budas Ditosos.
Editora: Objetiva.
Gênero: Literatura Brasileira- Romances.
Preço estimado: R$35,90.

9 de março de 2010

Lixo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.

- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?

Este texto está no livro O analista de Bagé de Luis Fernando Verissimo.

7 de março de 2010

O tempo não pára

Ufa! Porque, felizmente, não existem muitas coisas que uma boa noite de sono precedida por algum tempo ocioso na desciclopédia não resolvam meu mau humor passou!
O que não significa que eu voltei a ser a mesma pessoa de antes, nós nunca mais seremos os mesmos porque como já disse o poeta o tempo não pára.

Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou o cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando agulha no palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

(Arnaldo Brandão e Cazuza)

6 de março de 2010

Ainda inconstante

Felizmente o que eu falo não se escreve e o que eu escrevo não se grava, mudei de ideia! Sai dessa coisa de mês só com posts sobre mulheres, não que eu não goste delas. Veja bem! Muito ao contrário de tal coisa, gosto muitíssimo das mulheres, alguém já disse que elas tem um trato com Deus, certo? Neste caso eu também tenho e me reservo ao direito de mudar de ideia.
Me reservo ao direito de um monte de coisas, de não atender o telefone quando não estou a fim, de não sair de casa, de dormir o dia inteiro mesmo sabendo que tenho outras coisas para fazer, me reservo ao direito de pensar o que, em quem e quando quiser e somente se quiser. Me reservo até mesmo ao direito de sentir culpa de vez em quando. E de não sentir culpa, porque não? E de não sentir nada, pois não?
E assim, de reserva em reserva vou me reservando, me guardando não sei para quê ou para quem. Erguendo barreiras invisíveis, me protegendo desse mundo cão, cheio de pessoas não confiáveis, que estão logo ali no seu quintal!
Sem mencionar as pessoas doidas, as que não te vêem, não te escutam e as do pior tipo: as que fingem que se importam. Essas sem dúvida são as piores e porque estou em um desses dias em que você caga e anda para o mundo eu espero que todas elas se fodam, se explodam e morram!!!
Tá, talvez eu não queira realmente que elas morram mas não quero vê-las nem ouvi-las, não quero nada!
E em dias assim eu fico péssima, as letras se juntam mas não formam nada que presta e o silêncio . . . Oh o silêncio! Odeio o silêncio.
Aliás odeio um monte coisas.
Mas o que nesse momento me aborrece, porque a impossibilidade de confiar remexeu em montes gigantescos de neuroses ainda não trabalhadas na terapia, o que realmente me aborrece é essa gente doida que acha que em um mês se pode esquecer de tudo e seguir a diante com outra pessoa mesmo que a outra pessoa seja só você mesmo. Me aborrece a incapacidade sempre constante que carrego, desde que tive o desprazer de conhecer a Igreja e a culpa tipicamente católica, de me expressar, de falar com pessoas e me arriscar. Me aborreço comigo mesma e me enlouqueço!! Sei que não existe outro no mundo que seja responsável por minhas angústias, culpas, medos e solidão que não eu mesma.
Eu quero correr, quero gritar mas não quero fugir, o que me faz pensar que talvez a terapia esteja dando os primeiros sinais de que funciona, os meus ouvidos de aluguel. Por que no fundo é isso não? Um par de ouvidos de aluguel e uma boca inconveniente, que diz verdades óbvias e muito incômodas só para te obrigar a lidar com fatos que seria mais fácil esquecer. Mas não se pode esquecer o passado, especialmente quando tomamos consciência de que são todos os nossos ontens que formam o nosso hoje e que impreterivelmente formarão parte fundamental do amanhã.
Talvez, simplesmente me falte a coragem para confiar . . . e nesses dias tudo me aborrece!


4 de março de 2010

Trabalho de homem, trabalho de mulher

No dia 08 março se "comemora" o dia internacional da mulher. Por essa razão decidi que este mês só vai ter posts com essa temática.
Quero começar discutindo o trabalho, meio indispensável para a manutenção, não apenas da sobrevivência mas também e principalmente, da dignidade de todo e qualquer ser humano. Supostamente existem trabalhos de homem e trabalhos de mulher . . .
Foi no século XIX que a divisão de tarefas e a segregação sexual dos espaços alcançou seu ponto alto, buscando definir ao máximo os lugares de cada um.
A identidade social tanto de homens quanto de mulheres é construída através de papéis sociais distintos, ou seja, a sociedade delimita com bastante precisão os espaços em que a mulher pode operar assim como os espaços em que os homens podem operar. No século XIX os lugares que se atribuíram às mulheres foram a maternidade e o lar, sendo a participação no trabalho assalariado temporário, de acordo com as necessidades da família, sempre como um complemento, uma “ajuda” à renda do marido. Esse papel social da mulher sobrevive até os dias presentes. A educação e a socialização dos filhos é uma tarefa tradicionalmente atribuída às mulheres.
Ao homem do século XIX coube o monopólio da escrita e da coisa pública. A escrita feminina era então estrita e específica: livros de cozinha, manuais de educação e contos recreativos, constituem em geral esta literatura. Mesmo nos dias de hoje em que os homens já não detém o monopólio do espaço púbico tanto quanto antes, a participação das mulheres na política, especificamente no Brasil, é ínfimo. Nas ocasiões em que essas mulheres conseguem se eleger acabam “empurradas” para setores como educação e assistência social, que nada mais são do que extensões de seu papel social de mãe e enfermeira, naturalizando-se deste modo um resultado da história.
A sociedade investe pesado na naturalização desses papéis sociais, tenta fazer crer que a atribuição dos afazeres domésticos à mulher é fruto de sua capacidade de ser mãe. Atribuem a fragilidade feminina à sua constituição física e não a sua imobilidade dentro da sociedade.
É evidente que seres humanos nascem machos ou fêmeas, como a maioria dos animais. Mas é através da educação que eles constroem suas identidades sociais e se tornam homens ou mulheres.
E depois a gente conversa mais a respeito! ;)

20 de fevereiro de 2010

Tulipa Real

Carne opulenta, majestosa, fina,
do sol gerado nos febris carinhos,
há músicas, há cânticos, há vinhos,
na tua estranha boca sufarina.

A forma delicada e alabastrina
do teu corpo de límpidos arminhos
tem a frescura virginal dos linhos
e da neve polar e cristalina.

Deslumbramento de luxúria e gozo,
vem dessa carne o travo aciduloso
de um fruto aberto aos tropicais mormaços.

Teu coração lembra a orgia dos triclínios . . .
E os reis dormem bizarros e sanguíneos
na seda branca e pulcra dos teus braços.

(Cruz e Sousa)

16 de fevereiro de 2010

O despertar de uma paixão

Porque muitas vezes o mal prospera, porque muitas histórias não são felizes e porque as mulheres não amam os homens por suas virtudes. E por mais uma infinidades de motivos "O despertar de uma paixão" é um filme lindo que vale a pena ser visto.
O filme baseado em um romance de W. Somerset Maugham é sim uma história de amor mas é, antes de mais nada e acima de tudo, uma história de perdão.


No filme ambientado na China de 1925, Edward Norton interpreta o bacteriologista Walter Fane. Um homem um tanto sério e introspectivo mas cheio de virtudes que ama sinceramente a esposa e a perdoa. A perdoa por ser egoísta e mimada, a perdoa por não amá-lo e a perdoa até pelo adultério, não sem alguma dificuldade é claro.
E é por causa dessa dificuldade e o desejo de puní-la um pouco pela dor que ela lhe causou, e por nutrir esperanças de conquistá-la, a afastando do amante, que ele decide se voluntariar para dirigir um hospital em um vilarejo infestado pela cólera. Sem escolha, sua esposa Kitty (Naomi Watts) o acompanha nessa empreitada quase suicida e detalhe: eles não se vacinam.
Porque muitas vezes o mal prospera, porque muitas histórias não são felizes e porque as mulheres não amam os homens por suas virtudes o filme desperta em nós empatia pelos personagens e uma vontade bastante aguda de ler o livro que inspirou o filme.
Pretendo ler e quando o fizer digo o que achei, por hora fica minha recomendação do filme e se você correr ainda dá tempo de ver no carnaval.

2 de fevereiro de 2010

Náufrago

E vocês pensam que só Jardim Pantanal afunda? Nada disso! Hoje a Santa Cecília (bairro no centro novo de São Paulo) também naufragou. E eu estava lá! Quase fui levada pela enxurrada quando a água bateu no meu joelho, numa rua que nunca tinha alagado. Um pesadelo! E a água subindo . . . subindo . . . subindo . . . Para completar, quando eu finalmente me abriguei em um video locadora uma senhora ficou dizendo que aquela água provavelmente estava infectada de leptospirose! Que nojo!
Sem mencionar o fato de que enquanto eu assistia impotente a água subir e ameaçar invadir a video locadora eu vi um monte de lixo e me senti muito injustiçada. Eu nunca jogo lixo na rua mas a maioria não é assim e quando chove os bueiros estão todos entupidos. Hoje aquele pedaço só alagou por causa disso, qualquer um podia ver a água voltando de dentro dos bueiros. Parecia uma fonte de água suja.
Pena que eu estava sem celular se não teríamos fotos ilustrativas! Piadas a parte, foi terrível!
Estou aborrecida, não queria falar dessas coisas aqui, agora esse blog tem pauta, dá para acreditar?? Milagres de ano novo!
E eu ia falar disso quando finalmente atualizasse o blog, do meu pequeno milagre!
Mas fica para a próxima . . .

4 de janeiro de 2010

Ano novo

Eu sei que estou um tantinho atrasada mas no fim do ano parece que o tempo fica curto e cansado. Quero desejar aos meu leitores silênciosos um tudo de bom!!! E como existem pessoas que se expressam melhor que eu . . .

"Pois, desejo primeiro que você ame e que amando, seja também amado,
E que se não o for, seja breve em esquecer e esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo depois que não seja só, mas que se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos e que, mesmo maus e inconsequentes, sejam corajosos e fiéis,
E que em pelo menos um deles você possa confiar, que confiando, não duvide de sua confiança.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas
E que entre eles haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiadamente seguro.

Desejo, depois, que você seja útil, não insubstituivelmente útil,mas razoavelmente útil.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com aqueles que erram muito e irremediavelmente,
E que essa tolerância não se transforme em aplauso nem em permissividade,
Para que assim fazendo um bom uso dela, você dê também um exemplo para os outros.

Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais e que, sendo maduro,não insista em rejuvenescer e que, sendo velho, não se dedique a desesperar.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram dentro de nós.

Desejo, por sinal, que você seja triste, mas não o ano todo,nem em um mês e muito menos numa semana, mas apenas por um dia.
Mas que nesse dia de tristeza, você descubra que o riso diário é bom,o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo,
Talvez agora mesmo, mas se for impossível, amanhã de manhã, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes,
E que estão à sua volta, porque seu pai aceitou conviver com eles.
E que eles continuarão à volta de seus filhos, se você achar a convivência inevitável.

Desejo ainda que você afague um gato, que alimente um cão e ouça pelo menos um joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal.
Porque assim você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
por mais ridícula que seja, e acompanhe o seu crescimento dia-a-dia,
para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que, pelo menos uma vez por ano, você ponha uma porção dele na sua frente e diga:Isso é meu. Só para que fique bem claro quem é dono de quem.

Desejo ainda que você seja frugal, não inteiramente frugal,
não obcecadamente frugal, mas apenas usualmente frugal.
Mas que esse frugalismo não impeça você de abusar quando o abuso se impõe.

Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por ele e por você.
Mas que, se morrer, você possa chorar sem se culpar e sofrer sem se lamentar.

Desejo, por fim, que sendo mulher você tenha um bom homem,
E que sendo homem, tenha uma boa mulher.E que se amem hoje, amanhã, depois, no dia seguinte, mais uma vez,
E novamente, de agora até o próximo ano acabar,
E que quando estiverem exaustos e sorridentes,ainda tenham amor para recomeçar.

E se isso só acontecer, não tenho mais nada para desejar".

Importante: pelo que eu pesquisei esta poesia, de autoria de Sergio Jockymann, foi publicada em 1980 no Jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre-RS mas roda a internet como sendo de Victor Hugo e tem uma música do Frejat que é muuuito inspirada nela, é quase o poema musicado.